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Avanço vagaroso nas empresas de base tecnológica fundadas apenas por mulheres
O Brasil é considerado um país que produz grandes soluções inovadoras e empresas competitivas no mercado, considerando os 12 unicórnios que temos, além da evolução no ecossistema de inovação e capital de risco.
Atualmente, vemos que a diversidade e inclusão são fatores importantes para o crescimento da companhia e a falta dela pode impactar diretamente nos resultados.
Dez anos atrás, no começo das startups brasileiras, seu tamanho correspondia a 18% do que é hoje. Empresas de tecnologia fundadas somente por mulheres, representavam 4,4% do mercado e 3,5% com fundadores homens também. Em 2011, as empresas fundadas exclusivamente pelo sexo masculino, chegava a 92,1%. Em 2020, esses índices são 4,7%, 5,1%, 4,7% e 90,2%.
“O resultado nos surpreendeu. Embora soubéssemos da desigualdade óbvia observada nos ambientes de inovação, a diferença é ainda mais alarmante do que se esperava: menos de 5% das startups são fundadas apenas por mulheres e somente outros 5% têm um time híbrido de fundadores”, diz Lilian Natal, partners & head do Distrito for Startups.
“Ou seja, mais de 90% das startups no Brasil ainda são fundadas apenas por homens e ainda maior é o abismo quando consideramos a proporção de startups criadas por mulheres que recebem investimento, não chegando nem a 1%. O mais irônico é que, embora haja todas essas dificuldades para elas, dados mostram que startups que possuem pessoas do sexo feminino em seu quadro societário tendem a ter resultados 25% melhores.”
Desigualdade ainda prevalece
De acordo com o levantamento da “Female Founders Report 2021”, estudo realizado pela empresa de inovação Distrito em parceria com a Endeavor, rede global de empreendedorismo e a B2Mamy, a desigualdade está presente em diversas áreas do negócio.
Segundo uma notícia da “Harvard Business Review”, investidores consideram mais os pitchs de homens, mesmo que os argumentos sejam idênticos aos das mulheres.
Conforme apontam dados do Banco Mundial, somente 7% do total de investimentos de risco nos mercados emergentes, são destinados a negócios liderados por mulheres. Em média, startups com liderança feminina recebem 65% da média recebida pelos homens e quanto maior é o valor do investimento, maior é a diferença.
Não ter diversidade pode impactar no negócio como um todo. “Espaços diversos criam ambientes mais complexos, plenos de trajetórias e visões de mundo diferenciadas, e são mais propensos a oferecer soluções criativas para os desafios cada vez mais complexos com os quais nos deparamos hoje”, diz o estudo. “Garantir um número maior de empresas fundadas por mulheres não é apenas uma questão ética, mas um ativo com potencial de causar impactos socioeconômicos positivos. Não se trata, portanto, de uma iniciativa filantrópica, mas de um movimento capaz de gerar retornos financeiros significativos para investidores e organizações que perceberem a oportunidade e se posicionarem.”
O levantamento contou com mais de 400 fundadoras ou co-fundadoras, e chegou a um raio-x do empreendedorismo feminino de inovação no país.
Representatividade
No ecossistema de inovação, apenas 9,8% das empresas são fundadas por mulheres, sendo 4,7% fundadas exclusivamente por mulheres e 5,1% co-fundadas por elas, demonstrando que o ambiente da tecnologia ainda é dominado pelos homens.
Quadros societários
Nas startups brasileiras, o número de mulheres na sociedade da companhia é de 29,5%, sendo 21,4% delas scale ups. Em 2019 a Kauffman Fellows realizou um estudo, onde comprovou que empresas com pelo menos uma mulher como fundadora e uma C-level, empregam seis vezes mais mulheres. E as empresas lideradas por mulheres, empregam 2,5 vezes mais mulheres (como funcionárias, executivas e membros do conselho), do que as lideradas somente por homens.
Distribuição geográfica
A maior concentração do ecossistema de inovação está no eixo sul-sudeste, sendo 63% de incubadoras e 78% de aceleradoras. Já as startups, 72,2% estão no sudeste, 19,2% no sul, 4,2% no nordeste, 1,2% no centro-oeste e 0,4% no norte. O estado com mais startups como fundadoras ou co-fundadoras é o Rio de Janeiro (17,68%), seguido pelo Distrito Federal (14,29%) e São Paulo (13,71%).
Setores
Fundadoras e sócias se destacam nos setores de Fashiontechs (61% e 63,4%, respectivamente), RH e Gestão de Pessoas (26,7% e 36,9%), Negócios Sociais (24,1% e 31,6%) e Alimentação (22,7% e 34,8%), porém essas categorias juntas, representam apenas 3,5% do ecossistema.
Os destaques ficam para as fundadoras e co-fundadoras, exceto as sócias, nos setores de saúde e biotecnologia (15,2%), educação (12,7%), serviços financeiros (8,2%) e varejo (8,1%). O segmento de câmbio e cartão, não conta com nenhuma representante feminina.
Funcionários
Cerca de 70% das empresas do ecossistema tem até 20 funcionários, nas startups fundadas ou co-fundadas por mulheres, esse índice ultrapassa os 80%.
Já nas scale-ups, a média é de 56 funcionários nas empresas com liderança feminina, e 41% das empresas estão na faixa de 201 a 500 funcionários. Apesar de serem só 4% do ecossistema, o impacto na geração de empregos é considerável.
Soluções
Identificou-se um padrão entre o ecossistema, sócias e fundadoras: 57,5% das empresas focam no B2B. Nas startups com sócias, o número é quase o mesmo, 52,2%.
Referente ao modelo de negócio das startups com lideranças femininas, 24,1% são serviços online, 22,3% SaaS, 22,3% direct to consumer, 15,3% marketplaces, 9,3% outros, 4,8% mídia e entretenimento como conteúdo e 2% em redes sociais.
Fases e desafios
Cerca de 50% das startups lideradas por mulheres estão visando a expansão, 35,3% de new venture (da validação da ideia ao MVP), 9,5% de profissionalização e 5,8% de consolidação. Os maiores desafios são escalar e validar o modelo de negócio, ter boas conexões, operação do negócio e equilíbrio da vida pessoal e profissional.
Perfil das fundadoras e co-fundadoras:
Segundo a pesquisa, 76,7% são brancas, 13,3% pardas, 5,8% pretas, 3% amarelas e 0,5% indígenas (0,8% não responderam). A média etária dos empreendedores (homens e mulheres) do ecossistema brasileira é de 40,3 anos. No quadro societário em startups, a média feminina é de 42 anos. Entre as fundadoras e co-fundadoras é 40,9.
Quanto à escolaridade, 45,9% têm especialização, 25,1% completaram o ensino superior e 15,8% possuem mestrado. 24,8% das mulheres ouvidas na pesquisa fundaram mais de uma empresa.
Motivação
Para 33,58% das mulheres, o principal motivo é oferecer soluções assertivas e qualificadas para o mercado ou serviço e inovação do setor. Cerca de 28,07% informaram que tinham uma ótima ideia e queriam executá-la e somente 0,5% queriam empreender para complementar a renda familiar.
Investimento
Após 10 anos, o investimento em startups lideradas por mulheres ainda é bem pequeno, cerca de 2,2% do valor total do ecossistema. Desigualdade de gênero na indústria de venture capital, os fundos desse setor serem majoritariamente masculinos e a alocação desigual de capital entre empresas lideradas por homens e mulheres, são alguns dos fatores que colaboram para a dificuldade de captação de investimentos e consequentemente para o desenvolvimento desses negócios que estão iniciando no mercado.
Fonte: Forbes